Cancro do ovário


É um tipo de cancro silencioso. Só muito tarde dá os primeiros sinais de que invadiu o organismo da mulher. O facto de se detectar tardiamente o tumor leva a que em muitas situações se torne mortal. É um dos mais perigosos no que concerne aos cancros do sistema ginecológico. A percentagem de mortalidade é de 12 em cada cem mil mulheres.

Para o tratamento desta patologia o Instituto Português de Oncologia do Porto foi pioneiro numa intervenção cirúrgica que visa reduzir a reincidência. Foi apelidada de perfusão peritonial hipertérmica e é aplicada em casos muito seleccionados.

"É realizada numa segunda fase, depois da primeira operação. Durante a cirurgia a cavidade abdominal pélvica é aquecida através do soro de diálise peritonial e posteriormente é feita uma profusão com quimioterapia. A vantagem é que a junção da hipertermia à quimioterapia aumenta eficácia na remoção das metastases", explica a responsável da oncologia médica da unidade de ginecologia do IPO do Porto, Deolinda Pereira.

Outra das mais-valias deste centro oncológico prende-se com os novos remédios, denominados terapêuticas-alvo, ainda em fase de estudo, testados nas doentes em que não há outra alternativa de tratamento.

O investimento na prevenção não existe, porque se considera que a quantia gasta em rastreios não traria vantagens significativas. Numa fase inicial, não há indícios da doença. Uma anemia ou um aumento abdominal poderá indiciar cancro do ovário, avisa Deolinda Pereira.

Este tipo de carcinoma tem para a vida familiar e económica da mulher consequências devastadoras. "Muitas sofrem também perturbações na vida sexual, uma vez que depois de passarem por uma fase de quimioterapia e cirurgia tão invasiva ficam com marcas psicológicas", salienta a especialista.


ESSENCIAL SABER QUAL A MUTAÇÃO

No Instituto Português de Oncologia do Porto são realizados vários testes para identificar as mutações genéticas que originam o cancro dos ovários. Após a extracção do ADN, é realizado o corrimento dos fragmentos.

De seguida, esses fragmentos de ADN passam pelo sequenciador, para identificar quais as mutações genéticas. Dependendo de qual o gene alterado, determina-se qual o risco de vir a sofrer deste tipo de cancro.


DISCURSO DIRECTO

"10% DOS CASOS SÃO HEREDITÁRIOS"
(Manuel Teixeira, Director do Serviço de Genética)

Correio da Manhã –Quais são as possibilidades de diagnosticar a doença?
Manuel Teixeira – Cerca de dez por cento dos cancros do ovário são hereditários. Não é uma questão que se ponha para todos as doentes de cancro do ovário, mas especialmente àquelas que tenham vários casos de cancro do ovário da família ou associado ao cancro da mama. Os restantes 90% são esporádicos.

– Que cuidados devem ter as mulheres?
– Deve começar logo pela mulher que teve cancro no ovário, que deve pedir aconselhamento genético. Assim, identifica-se qual o gene e qual a mutação responsável. Ao perceber qual é essa mutação já se pode estudar o resto da família.

– Qual a probabilidade de um familiar directo vir a ter a doença?
– Tem cinquenta por cento de possibilidade de contrair a doença.

– Que tipos de tratamento há para esta doença?
– Se identificarmos a mutação genética numa mulher saudável é possível saber que, se for o gene BRSA 2, tem 10 a 20% de hipótese de contrair a doença; se for BRSA 1, o risco sobe para os 50%.Há possibilidade de fazer rastreio, mas nem sempre é eficaz.O mais comum é seguir para a cirurgia profiláctica.


CONTRAPONTO
CUIDADOS IMPORTANTES
MÉDICOS DE FAMÍLIA
Os ginecologistas já estão bastante alertados para o cancro dos ovários, mas a especialista Deolinda Sousa Pereira afirma que é preciso apostar na divulgação pelos médicos de família.

SEXAGENÁRIAS
É nas mulheres a partir dos sessenta anos que o cancro dos ovários tem maior incidência. Uma das consequências é a menopausa precoce.

QUIMIOTERAPIA
São poucos os casos em que as mulheres, depois da intervenção cirúrgica, não têm de se sujeitar a várias sessões de quimioterapia.


TERAPEUTICA E CONSEQUÊNCIAS
CIRURGIA
É a terapêutica mais utilizada no cancro do ovário. É um tumor que se espalha pela cavidade pélvica e em que é necessário retirar a maior volume de metástases.

METADE
Cinquenta por cento das mulheres que contraem este tipo de cancro tem uma recaída. Dez anos é o tempo máximo de vigilância oncológica para quem não tem reincidência do tumor.

HISTORIAL
O historial familiar é o maior factor de risco para contrair o cancro do ovário. Nesses casos a vigilância deve ser feita de forma apertada, com exames como a ecografia pélvica.

GENÉTICA
A partir de 2001 os testes genéticos permitiram compilar os casos de historial familiar. A vantagem é que a intervenção pode ser feita de uma forma prévia.

CRESCIMENTO
O cancro dos ovários cria por vezes "sementeiras de nódulos", que se disseminam pelos órgãos envolventes.

CUIDADOS COM A GRAVIDEZ
Nos casos em que há um diagnóstico precoce do cancro do ovário, estando ainda concentrados os nódulos apenas num deles, é possível a mulher ter filhos. "Se for preservado um ovário e o útero é possível que a mulher mantenha a fertilidade", explica Deolinda Pereira. Segundo a responsável da oncologia médica da unidade de ginecologia do Instituo Português de Oncologia do Porto, já houve mulheres que tiveram filhos nestas circunstâncias. Em certas fases da gravidez é inclusive possível ir fazendo tratamentos de quimioterapia. Acrescente-se que todos os anos o IPO do Porto recebe 70 novos casos de mulheres com cancro do ovário.

NÚMEROS
12 em cada cem mil mulheres acabam por morrer vítimas do cancro do ovário.

433 é o número de casos registados em Portugal em 2001 com esta tipologia de cancro.

3 é o nível de incidência que o cancro do ovário ocupa na área dos cancros do sistema ginecológico.

50 por cento dos familiares directos de doentes de cancro do ovário tem possibilidade de vir a contrair a doença.


10 é o número de anos durante os quais a doente é acompanhada se não houver reincidência.


NOTAS
HOSPITAL DE DIA
É denominado de Hospital de Dia a zona do IPO do Porto em que os doentes oncológicos fazem os tratamentos

ANÁLISE DA MUTAÇÃO
É nos "aquários" que a recolha de ADN é testada e em que se verifica se existem mutações genéticas relevantes

SALAS DE TRATAMENTO
É nesta sala que decorrem os tratamentos.

João Carlos Malta in Correio da Manhã Online, 27Jul2008

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